Medicamento injetável mostra resultados promissores contra o excesso de gordura no fígado
Em novo estudo, a survodutida melhorou a inflamação e a fibrose do fígado. Veja como ela funciona e quais são os próximos passos
Uma importante pesquisa foi apresentada no Congresso da Associação Europeia para o Estudo das Doenças do Fígado, realizado em Milão, na Itália. A pesquisa testou o efeito de três diferentes doses semanais da chamada survodutida, uma injeção subcutânea, em participantes com inflamação e fibrose no fígado.
Esse medicamento imita as ações de dois hormônios: o GLP-1 e o glucagon. Essa combinação, por sua vez, reduz o apetite, retarda o esvaziamento do estômago, diminui o peso corporal etc. E cabe destacar que a obesidade é associada a diferentes problemas no fígado.
No estudo, foram incluídos 293 participantes que tinham principalmente fibrose graus 2 e 3 (em uma escala que varia de 0 a 4). Uma parte recebeu a survodutida, enquanto a outra ficou só com um placebo.
Em média, a idade dos participantes era de 50 anos, com peso de 101 quilos e índice de massa corporal (IMC) de 35 kg/m2, o que configura obesidade de grau 2. Cerca de 38% deles tinham diabetes tipo 2.
Todos os participantes receberam orientações sobre um estilo de vida saudável. Após um ano, cerca de 83% daqueles que utilizaram a survodutida apresentaram melhora do processo inflamatório do fígado, em comparação com apenas 18% de melhora no grupo placebo. Isso com base em biópsias que foram feitas nos voluntários.
Além disso, houve uma melhora da fibrose em aproximadamente 35% das pessoas no grupo que recebeu a survodutida – o que é significativo, uma vez que essa condição é difícil de ser tratada.
Já o percentual de redução de gordura no fígado, observado por ressonância magnética, foi de 62% no grupo que recebeu a medicação, versus 5,7% no que ficou com o placebo.
E os efeitos colaterais? Os mais comuns foram os gastrintestinais, como náuseas (presentes em 60% dos participantes), diarreia (50%), vômitos (30%) e constipação (20%).
É importante destacar que as reações adversas foram, em sua maioria, de grau leve a moderado e desapareceram ao longo do estudo. Porém, a taxa de descontinuação da survodutida ao longo do estudo – ou seja, de pessoas que largaram o remédio por algum motivo – foi de 20%, o que não é pouco e demanda atenção.
Esse é um estudo clínico de fase 2. Devido aos resultados promissores, uma pesquisa de fase 3, que traz um maior número de participantes, já está em andamento desde março de 2024. Vamos aguardar o andamento para ver se os bons resultados a favor do fígado se mantêm.
18 de junho de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.