Estudo avalia segurança de medicamento antiobesidade em crianças de 6 a 12 anos
A pesquisa SCALE KIDS, apresentada no Congresso Europeu de Diabetes, aponta eficácia e segurança da liraglutida para lidar com a obesidade nessa faixa etária. O que tirar daí?
O uso e o estudo de qualquer medicamento na faixa etária mais jovem demandam uma cautela ainda maior quanto à segurança. Crianças e adolescentes têm um organismo em formação, com várias particularidades, o que pode trazer repercussões inesperadas.
É nesse cenário que foram apresentados os dados do estudo SCALE-KIDS com a molécula liraglutida, na dose de 3 miligramas e aplicada diariamente via subcutânea. O objetivo era avaliar o efeito desse remédio na perda de peso em crianças e jovens de 6 a 12 anos.
A pesquisa incluiu 82 participantes de ambos os sexos com idade média de 10 anos. O peso médio era de 70 quilos. Já o IMC (o índice de massa corporal, que é uma fórmula baseada na divisão do peso pela estatura elevada ao quadrado) ficava em 31 Kg/m2, o que denota obesidade.
Ao longo de 52 semanas, aqueles que utilizaram liraglutida apresentaram uma redução de 5,8% no IMC, ao passo que o grupo controle, que não usou o medicamento, teve um aumento de 1,6%. Uma diferença considerável.
E os efeitos colaterais? Os mais comuns foram os gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia ou constipação. Mas a maioria dessas reações tinha intensidade leve a moderada – e também transitória.
Apenas seis participantes (11%) do grupo que recebeu liraglutida suspenderam o tratamento durante o estudo devido aos efeitos colaterais.
Espera-se que em breve esse medicamento seja aprovado nos Estados Unidos e, posteriormente, no Brasil para uso em pessoas acima de 6 anos. Vale destacar que ele já é aprovado no nosso país a partir de 12 anos de idade, sempre associado a exercícios regulares e hábitos alimentares saudáveis.
Geralmente, a dieta da criança reflete o padrão alimentar da família. Por isso, promover hábitos de vida saudáveis em toda a família é fundamental nesse contexto. Crianças com obesidade possuem maior risco de se tornarem adolescentes com obesidade – e, depois, adultos com obesidade.
Talvez a grande maioria das crianças acima do peso não precise de medicamentos, mas um grupo com obesidade mais significativa e sem resposta às mudanças de estilo de vida poderia se beneficiar. E nunca é demais lembrar que todo tratamento deve ser acompanhado pelo profissional de saúde.
27 de setembro de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.