Um cálculo para proteger o fígado
Uma equação chamada FIB-4 determina, a partir de certas informações, o risco da gordura no fígado evoluir para complicações. Infelizmente, ela ainda não é incorporada nos laudos de laboratórios
A famosa gordura no fígado não é apenas “uma gordurinha que quase todos possuem”. Chamada tecnicamente de esteatose hepática, é uma das principais causas de fibrose, câncer e cirrose no fígado – e até mesmo de indicação de transplante hepático no Brasil e no mundo.
As pessoas que possuem excesso de gordura no fígado frequentemente também são diagnosticadas com pressão alta, obesidade, alterações de colesterol e triglicérides etc. Estima-se que 30% da população mundial tenha excesso de gordura no fígado. Esse percentual chega a incríveis 80% naqueles com diabetes tipo 2. Ou seja, estamos falando de um assunto sério.
Na maioria das vezes, o diagnóstico da esteatose hepática se faz pelo exame de ultrassom. Porém, ele não nos mostra com certeza o estágio que o paciente se encontra. E, quanto mais precoce a identificação do quadro, maior a chance de reversão e prevenção para quadros mais graves.
A boa notícia é que exames simples podem ser utilizados em uma equação justamente para definir o risco de a gordura no fígado daquele paciente evoluir para algo mais sério. Trata-se de uma equação chamada “FIB-4”. Para fazer essa “continha”, são necessários quatro itens que muitos pacientes já possuem nos seus exames de sangue:
- Idade
- Quantidade de plaquetas no sangue
- TGO
- TGP
O TGO e o TGP são avaliações que mostram, entre outras coisas, o grau de inflamação do fígado. Já a contagem de plaquetas costuma vir em exames de hemograma completo. Todos são testes relativamente baratos e realizados nos diversos cantos do país.
Atenção: a equação FIB-4 é para profissionais. Mas, hoje, há calculadoras gratuitas disponibilizadas na internet que chegam a resultados em poucos segundos, a partir dos dados dos exames. Uma das calculadoras pode ser acessada clicando aqui.
Ainda assim, com toda essa facilidade, muitos médicos e outros profissionais de saúde não fazem o cálculo nas consultas, o que pode comprometer a saúde do fígado.
Por isso, uma das saídas mais práticas seria os laboratórios adicionarem esse cálculo automaticamente em laudos de todas as pessoas que colhem exames de sangue com os itens listados acima. Isso facilitaria ainda mais o trabalho do profissional de saúde e o diagnóstico precoce. E claro, os maiores beneficiados seriam os pacientes.
Exemplo semelhante já é feito em quase todo o Brasil para mensurar a saúde dos rins: trata-se da taxa de filtração glomerular. Essa é uma equação simples que leva em conta idade, sexo e o valor da creatinina no sangue. A partir daí, mostra o grau de filtração dos rins.
Vale destacar que laboratórios menores, inclusive no interior do Brasil, já incorporaram esse resultado na sua rotina. Por que então os laboratórios, inclusive as grandes redes, não disponibilizam o FIB-4?
Fica aqui o apelo e a sugestão.
9 de outubro de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.