A hipertensão do jaleco branco existe mesmo?
Quem ouviu falar pela primeira vez pode até duvidar, ou achar folclórico que a pressão de alguém suba só porque está na frente do médico. Saiba aqui se isso realmente acontece!
O sujeito pode não apresentar nenhum sinal de hipertensão no dia a dia, mas é só chegar ao consultório médico, independentemente do motivo, ser submetido a uma medição de rotina de sua pressão arterial e deparar com valores elevados. Antes disso, vêm a ansiedade, o nervosismo, a tensão muscular, a tremedeira, até o suor frio. Quem explica?
Primeiro de tudo, essa reação “curiosa” existe mesmo, e muita gente sente diante do médico. Reação de quem tem medo do indivíduo à sua frente, um possível portador de qualquer má notícia a ser dada em minutos. Daí a associação ao jaleco, ou avental branco, representada pelo profissional que “faria” o coração de seu paciente disparar.
É difícil precisar quantas pessoas – crianças e adultos – são acometidas em todo o mundo, já que os casos não costumam ser notificados. Mas dados da Universidade da Califórnia apontam que o primeiro registro da latrofobia – o nome oficial da condição, o qual vem do grego iatrós (médico) – ocorreu na década de 1980.
A explicação pode vir com a ajuda da Psicologia, que leva em conta as experiências de vida do indivíduo para identificar traumas e/ou possíveis associações negativas que ele venha a fazer com o comparecimento ao hospital ou clínica. Até porque quem visita esses locais a não ser por necessidade ou por julgar que a tem, não é verdade?
O fato é que essa reação, inconsciente, também não deixa de ser irracional. Pior: pode piorar com o tempo, a ponto de o paciente evitar visitas ao médico. Ou, mesmo que chegue a fazer alguns exames, estes terem os seus resultados comprometidos, simplesmente pelo indivíduo não estar “normotenso” – termo usado na área de saúde para se referir a quem apresenta valores de pressão arterial dentro da normalidade. Fora os riscos da automedicação, quando a pessoa acredita que “pode dar um jeito no seu problema” tomando esse ou aquele medicamento, no lugar de buscar assistência especializada.
A hipertensão do jaleco branco também é considerada síndrome e, pelos motivos já apresentados, pede acompanhamento. E também porque certos traumas, como erro médico e perda de um familiar, além da dependência de drogas e/ou bebidas alcoólicas, muito comumente deixam marcas profundas na vida do paciente – é onde pode entrar o apoio psicológico.
Segundo menciona o cardiologista Fernando Nobre, durante o podcast Olhar da Saúde, infelizmente grande parte dos profissionais de saúde no Brasil não utiliza as técnicas adequadas para aferição da pressão arterial (assista ao episódio clicando aqui!)
Mas existem outros métodos capazes de atenuar essa reação. A Telemedicina, por exemplo, permite o contato do médico com o paciente além dos muros do consultório, evitando o ambiente característico dos espaços clínicos. Um atendimento mais descontraído, para que a pessoa se sinta mais à vontade – até para descrever com mais detalhes o que a trouxe à consulta –, também pode trazer resultados. Técnicas de relaxamento, antes ou inclusive durante a conversa, por iniciativa do profissional, são mais uma alternativa.
Algumas outras dicas valiosas antes de ter a pressão aferida no ambiente de consultório médico ou outra unidade de saúde: evite grandes refeições e o uso de cigarro e de bebidas com cafeína nos 30 minutos precedentes. A medição deve ocorrer após cinco minutos de repouso em ambiente calmo. Não se deve conversar durante a medição, dúvidas devem ser tiradas antes ou depois do atendimento, e a bexiga deve estar vazia.
Na suspeita de hipertensão do jaleco branco, seria interessante ter a medição da pressão fora do consultório, com a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). Com esse procedimento, o paciente permanece 24 horas com o aparelho de pressão no braço, e este é insuflado automaticamente de tempos em tempos durante o dia e à noite com os resultados armazenados no aparelho.
Outra forma de aferição fora do ambiente de saúde é a MRPA (monitorização residencial da pressão arterial). Com esse método, o próprio paciente, com aparelho automático de braço, mede a pressão antes do café da manhã e antes de dormir durante 5 dias consecutivos e leva os resultados ao médico. Antes do café da manhã e à noite, o método adequado de aferição é de 3 medidas em intervalo de 1 a 3 minutos em ambiente calmo, com a bexiga vazia, estando sem fumar e sem ingerir café minutos antes.
Na hipertensão do jaleco branco, a MAPA e a MRPA promovem resultados considerados normais, mas durante as medições do consultório as medições são consideradas elevadas.
Já percebeu em si próprio sintomas ligados à hipertensão do jaleco branco? Se sim, já viu que nem de longe está sozinho. Tem algum amigo, alguém da sua família com essa condição? Se sim, recomende este texto!
25 de outubro de 2024
,