Vapor de água: nova alternativa para aumento benigno da próstata
Chegou ao Brasil procedimento minimamente invasivo, que permite tratamento sem internação e com retorno precoce do paciente ao trabalho
Uma das preocupações frequentes dos homens quando se fala em saúde é com a próstata, uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada na frente do reto e embaixo da bexiga urinária. Estima-se que 85% dos homens a partir dos 45 anos terão próstata aumentada, condição chamada hiperplasia prostática benigna (HPB), que pode impactar os pacientes de diversas maneiras. Entre os sintomas mais comuns estão a diminuição do jato urinário, a necessidade de urinar com frequência durante o dia e à noite e a dificuldade para esvaziar completamente a bexiga, além de dor e ardência durante a micção.
Existem vários medicamentos e cirurgias para tratar a HPB, como a cirurgia de raspagem, também conhecida como ressecção transuretral da próstata (RTU). Esse procedimento remove parte da próstata que obstrui o canal urinário e é indicado quando o paciente não responde ao tratamento medicamentoso. Embora seja uma solução para o problema, a cirurgia pode ter alguns efeitos colaterais, como sangramentos, necessidade de transfusão de sangue, dor no pós-operatório, infecção urinária, incontinência urinária e perda da ejaculação.
Porém, o cenário do tratamento do aumento benigno da próstata está mudando no país com a chegada da terapia de vapor de água, em junho de 2023, procedimento feito com o uso de um equipamento chamado Rezūm, desenvolvido pela empresa Boston Scientific. “A principal vantagem desse tratamento é que ele não precisa ser feito no hospital, que é uma estrutura muito cara. Isso é bastante atraente aos pacientes e à própria fonte pagadora”, afirma o médico urologista Tiago Borelli Bovo, que é cirurgião robótico e faz parte da primeira equipe a realizar o vapor de água no Brasil. “Além disso, os pacientes que fazem a terapia com vapor de água preservam a função ejaculatória. Com isso, o aspecto sexual deles não muda, o que é comum nas cirurgias de raspagem da próstata”, compara.
Ele explica que o Rezūm pode ser feito em uma clínica médica ou consultório preparado, que deve ter uma sala de cirurgia, uma sala de recuperação e uma equipe treinada. Outras vantagens do vapor de água são:
- Tempo muito curto de procedimento: o tratamento é feito em apenas uma sessão, que dura no máximo 20 minutos, incluindo o período dos preparativos;
- Recuperação rápida: o paciente recebe alta no mesmo dia e pode voltar às atividades normalmente;
- Sem necessidade de anestesia: o paciente é apenas sedado;
- Procedimento minimamente invasivo: a aplicação do vapor é feita diretamente na próstata por meio de uma pistola descartável e por um cirurgião treinado em simulador próprio para realizar o procedimento.
Tecnologia na ponta da agulha
O curto período em que o paciente fica na maca tem uma explicação: tecnologia, que garante o minimally invasive treatment (tratamento minimamente invasivo). O equipamento utilizado para o procedimento inclui uma pistola que induz o vapor por radiofrequência, injetando 0,4 mL de vapor de água destilada a cada aplicação.
Geralmente, em uma sessão de tratamento são feitas de quatro a seis injeções (aplicações), de nove segundos cada. “Alguns pacientes perguntam se o vapor não vai ‘cozinhar’ a próstata, mas não é um vapor comum. Ele é feito com água destilada, que entra na célula e lesa a parede celular onde é injetada”, detalha o urologista e diretor da Clínica Vivant, em Ribeirão Preto (SP).
Outro benefício é o tempo de recuperação. O paciente recebe alta médica no mesmo dia. O médico garante que o período pós-procedimento também é tranquilo, principalmente se comparado com o pós-cirúrgico. “A melhora do jato miccional é notada de um a três meses depois da cirurgia. O paciente utiliza sonda por três dias e, ao término desse período, ele mesmo pode tirar. Nas primeiras duas semanas, o paciente pode ter um pouco de ardência para urinar, de urgência miccional ou um pouco de sangramento, mas esses sintomas são bem tolerados”, afirma Bovo.
O procedimento é indicado principalmente para pacientes jovens que não queiram perder a ejaculação e pacientes idosos que tenham risco para outros tipos de procedimento. Porém, o urologista explica que nem todos os homens que sofrem com aumento de próstata são indicados para passar pelo tratamento com vapor de água e que existe contraindicação. “O volume prostático é um fator muito limitador em relação à indicação de qualquer procedimento na região: o volume adequado é entre 30 e 100 centímetros cúbicos”, explica.
Acesso ao tratamento: questão de saúde pública
Utilizado há cerca de uma década nos Estados Unidos, o Rezūm é relativamente novo no Brasil e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) nem nos planos de saúde. Ainda são poucas as clínicas que oferecem o Rezūm, pois elas precisam ter estrutura física, condições para realizar os treinamentos dos profissionais envolvidos, adquirir a máquina geradora de vapor e as pistolas descartáveis, que custam, em média, R$ 10 mil cada.
Todas essas questões competem para que o acesso ao tratamento ainda seja limitado para boa parte dos pacientes, já que o valor total fica em torno de R$ 28 mil, dependendo da região, mas a expectativa é que isso mude no futuro. “Com o tempo, esperamos que esse preço seja reduzido. A Sociedade Brasileira de Urologia está tentando inserir o procedimento no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), porque, quando um tratamento está nessa lista, automaticamente tem cobertura do plano de saúde”, argumenta Bovo.
Ele destaca que, segundo alguns centros de pesquisa nos Estados Unidos, a catarata é a cirurgia mais comum no país, seguida de perto pela cirurgia para aumento da próstata. “Esse dado é revelador, pois, considerando que metade da população é composta por mulheres, que não possuem próstata, fica claro que a HPB representa um desafio significativo para a saúde pública”, analisa.
2 de abril de 2025
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