Surge promessa para controlar um tipo de colesterol que não diminui com remédios tradicionais
O fármaco lepodisiran está em fase final de testes e mira a lipoproteína(a), uma versão do colesterol ligada a fatores genéticos
Cerca de 20% da população mundial tem níveis altos de lipoproteína(a) — ou Lp(a) —, um tipo de colesterol ligado a fatores genéticos. Estudos mostram que taxas elevadas de Lp(a) no sangue dobram ou até triplicam o risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e estenose aórtica. Então, por que as pessoas ouvem falar muito menos sobre essa molécula do que, por exemplo, sobre o LDL, outra versão de colesterol?
Ora, a Lp(a) não é controlada adequadamente com medicamentos tradicionais, como as estatinas. Mas pode ser que, finalmente, surja um tratamento contra ela. Em um estudo clínico de fase 2 apresentado no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia e publicado no New England Journal of Medicine, uma droga batizada de lepodisiran alcançou efeitos animadores.
Na pesquisa, que se chama ALPACA, 320 participantes com Lp(a) muito alta foram recrutados. Resultados:
- Uma dose de 400 mg de lepodisiran reduziu o Lp(a) em 93,9%, entre 60 e 180 dias após a aplicação.
- Pacientes que receberam duas doses (a segunda 180 dias após a primeira) mantiveram uma redução de 94,8% nas taxas por quase 1 ano.
Além disso, o lepodisiran apresentou bom perfil de segurança, com efeitos colaterais leves, como reações no local da injeção. Não houve eventos graves relacionados ao tratamento, tornando-o uma opção promissora para pacientes com alto risco cardiovascular.
O lepodisiran utiliza a tecnologia de RNA interferente pequeno (siRNA). São pequenas moléculas que interferem nos comandos disparados pelo DNA e que, no caso, ajudam a bloquear a produção da proteína responsável pela formação da Lp(a) no fígado. Como reforçado pelos dados do estudo ALPACA, uma vantagem é a sua ação prolongada, permitindo que uma única dose mantenha os níveis de Lp(a) sob controle por meses.
A farmacêutica Eli Lilly, detentora do medicamento, já iniciou o estudo de fase 3 ACCLAIM-Lp(a), que avaliará se o lepodisiran diminui efetivamente o risco de infartos e derrames. Caso os resultados sejam positivos e as agências regulatórias autorizem seu uso, esse pode se tornar o primeiro tratamento específico para Lp(a).
Além do lepodisiran, outras moléculas estão sendo estudadas para o mesmo fim, como pelacarsen, olpasiran e muvalapin. Vamos aguardar os resultados dos estudos.
Por que a Lp(a) é um problema de saúde pública?
Além da alta prevalência, altos índices de Lp(a) não apresentam sintomas até que ocorra um evento cardiovascular grave. Não à toa, a Sociedade Europeia de Cardiologia recomenda a dosagem dessa molécula em todos os adultos pelo menos uma vez na vida, mesmo sem um tratamento específico.
Com a promessa do lepodisiran e de outras medicações, o potencial preventivo contra doenças cardiovasculares é considerável.
2 de abril de 2025
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