Semaglutida pode beneficiar pacientes com diabetes tipo 2 que têm obstrução das artérias das pernas
O estudo STRIDE, apresentado no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia, trouxe dados animadores no controle da chamada doença arterial periférica
O entupimento das artérias das pernas, quadro batizado de doença arterial periférica, é relativamente comum em pessoas com diabetes tipo 2 descontrolado. Em suas fases iniciais, a condição promove sintomas inespecíficos, como “pernas cansadas”. Mas pode evoluir com feridas que não cicatrizam, dores intensas ao caminhar e até amputação.
Vale ressaltar que a presença de entupimento das pernas é um forte indicador de obstruções em outras artérias, como as coronárias (que podem evoluir para um infarto) ou as carótidas (derrame cerebral).
Agora, onde entra a semaglutida, um medicamento tradicionalmente ligado ao diabetes, nisso? Apesar de existirem estudos conduzidos com agonistas do receptor de GLP-1 – a classe dessa medicação – para reduzir eventos como infarto, derrame e insuficiência cardíaca, nenhum havia focado no efeito em pessoas com diabetes tipo 2 e algum grau de doença arterial periférica.
Eis que o estudo STRIDE foi apresentado no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia de 2025, o ACC, sediado em Chicago. A pesquisa incluiu 792 participantes com diabetes tipo 2. Parte dos pacientes utilizou semaglutida subcutânea até a dose de 1 mg semanal, enquanto outro grupo recebeu injeções de placebo (sem substância ativa).
Após 1 ano, a turma da semaglutida conseguiu andar maiores distâncias, um indicador usado para avaliar a gravidade da doença arterial periférica. Não apenas isso: essas pessoas ficaram mais tempo caminhando sem dores nas pernas. Também se viu melhora no questionário de qualidade de vida.
Importante ressaltar que o estudo STRIDE não teve o poder estatístico para confirmar um menor risco de amputações e cirurgias das pernas, porém os dados preliminares vão nessa direção. Novas pesquisas podem avançar nesse sentido e trazer respostas mais contundentes.
O mecanismo exato da melhora com a semaglutida não está bem estabelecido. Especula-se que a redução do peso corporal e a melhora da glicemia e do perfil inflamatório tenham um papel nessa história.
E fica aqui uma discussão: apesar de a semaglutida ter um custo elevado, mais caros ainda são os custos diretos e indiretos com sequelas de entupimento dos membros inferiores. Já passou da hora de o SUS começar a discutir farmacoeconomia, em que muitas vezes o “caro sai barato”.
Do lado populacional, também precisamos investir na prevenção do diabetes, da hipertensão, do colesterol alto, do tabagismo e do sedentarismo, fatores de risco para a doença arterial periférica. Como em muitas outras enfermidades, a educação do paciente e o seguimento médico regular são peças fundamentais para a manutenção da saúde.
2 de abril de 2025
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