Medicamentos da classe do Ozempic não aumentam risco de uma complicação cirúrgica grave, segundo estudo
Os chamados agonistas do receptor GLP-1 não foram associados à pneumonia por aspiração. Entenda o que isso significa e quais as limitações da pesquisa
Os medicamentos conhecidos como agonistas do receptor GLP-1 (Ozempic, Wegoxy, Victoza, Saxenda) têm ganhado popularidade no tratamento de diabetes e obesidade, graças à eficácia no controle da glicemia e na grande redução de peso. No entanto, surgiram preocupações sobre aplicações antes de cirurgias, especialmente devido ao risco de pneumonia por aspiração — uma complicação séria que ocorre quando o conteúdo do estômago entra nos pulmões durante a anestesia. Vale lembrar que esses remédios retardam o esvaziamento gástrico, aumentando a saciedade e reduzindo o apetite.
Mas um estudo recente da Escola de Medicina da Harvard, publicado na revista médica JAMA Network Open, traz boas notícias: o uso pré-operatório parece não aumentar o risco de pneumonia por aspiração. A pesquisa analisou dados de 366.476 pacientes que passaram por 14 cirurgias comuns, como hérnia inguinal, artroplastia de joelho e apendicectomia, entre abril de 2020 e setembro de 2022. Entre eles, 5.931 (1,6%) usaram agonistas do receptor GLP-1 antes da cirurgia. Os resultados mostram que:
- Não houve diferença significativa nas taxas de pneumonia por aspiração entre usuários e não usuários (0,7% vs. 0,6%).
- O risco de insuficiência respiratória aguda também foi semelhante nos dois grupos após ajustes para fatores como idade, sexo e comorbidades.
Essas descobertas desafiam as recomendações atuais de suspender o uso desses medicamentos antes da cirurgia, como sugerido pela Sociedade Americana de Anestesiologistas em 2023.
Por que isso é importante?
- Segurança para pacientes: muitos pacientes dependem dos agonistas do receptor GLP-1 para controlar o diabetes ou a obesidade. Cortar abruptamente esses medicamentos, mesmo que de maneira temporária, pode desestabilizar suas condições.
- Impacto nas diretrizes médicas: as recomendações atuais se baseiam em preocupações teóricas sobre o atraso no esvaziamento gástrico causado pelos agonistas do receptor GLP-1. Porém, o estudo não encontrou evidências concretas de que isso leve a complicações respiratórias pós-cirúrgicas.
Apesar dos resultados promissores, é importante destacar algumas limitações da pesquisa:
– Adesão ao medicamento: o estudo utilizou as prescrições como indicador de uso, mas não confirmou se os pacientes realmente tomaram os remédios antes da cirurgia.
– População específica: a maioria dos participantes tinha seguro de saúde privado, o que não reflete a realidade de pacientes idosos ou com condições mais complexas, principalmente em países como o Brasil.
– Falta de detalhes pré-operatórios: dados como tempo de jejum ou exames de ultrassom gástrico não foram avaliados.
Diante disso, a conclusão é que mais pesquisas são necessárias, especialmente em populações diversificadas. Diretrizes médicas podem mudar, mas, enquanto isso não ocorre, a melhor conduta é o diálogo aberto entre paciente e equipe médica. Discuta os riscos e benefícios e sempre siga à risca as orientações pré-operatórias.
8 de abril de 2025
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