Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Espondiloartrite axial

Quando a dor nas costas não é “só” postura: o que é espondiloartrite axial?

Doença autoimune pode ser confundida com dor postural e demorar anos para ser diagnosticada. Homens com menos de 40 anos são os mais afetados

Acordar e sentir aquela dorzinha chata na lombar… Embora incomode, geralmente, logo é esquecida, já que basta o corpo “esquentar” aos poucos com as atividades diárias para aquela sensação de “enferrujado”, sem causa aparente, passar. Essa situação é muito comum e atinge adultos de todas as idades, inclusive antes dos 40 anos. Mas será que essa dor é resultado da má postura, por ter passado muito tempo na frente do computador ou da televisão ou, ainda, por ter dormido mal?

A resposta pode estar muito além de uma simples má postura. Para entender melhor a situação, conversamos com Daniela Aparecida de Moraes, médica assitente do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), que explicou que a dor na coluna, muitas vezes ignorada, pode ser espondiloartrite axial (EpA), nome estranho que camufla uma doença subdiagnosticada, que atinge de 0,3% a 1,5% da população brasileira. 

“‘Espondilo’ significa vértebra, nome dado aos ossos da coluna; ‘artrite’ significa inflamação articular, e ‘axial’ corresponde à região da coluna e da bacia. Assim, a espondiloartrite axial é uma doença autoimune que causa inflamação nas articulações da coluna e da bacia. Quando não tratada no período adequado, pode causar fusão dessas articulações”, afirma a médica.

Uma curiosidade é que as pessoas mais propensas a desenvolver a EpA são homens com menos de 40 anos, com histórico da doença na família. “De cada 4 pessoas acometidas, 3 são homens”, conta Daniela. 

Sintomas 

Assim como qualquer outra doença, uma característica da EpA é que ela pode afetar a qualidade de vida. “O paciente acorda com dor e bastante rigidez na coluna, como se ela estivesse enferrujada. Podem aparecer também inflamações em outras articulações, como joelhos e tornozelos, além de dores em calcanhares e inflamação dos dedos, nos olhos e até no intestino”, expõe a profissional.

A doença pode impactar a capacidade física dos pacientes, devido à presença de dor e fadiga, que por sua vez causam prejuízo no trabalho, no lazer, na vida familiar. Esse “pacote completo” ainda tem impacto na saúde mental, culminando no comprometimento emocional.  

Ainda não existem estudos que comprovem a origem da EpA, mas é sabido que a comorbidade aparece após períodos de repouso, que pode ser à noite, durante o sono, ou após permanecer sentado por longas horas, seja para uso de celular, computador ou para assistir à televisão, por exemplo.

Diagnóstico: o maior desafio

De acordo com a Dra. Daniela, o maior desafio da doença é o diagnóstico em si, que pode demorar de cinco a oito anos, fazendo com que o tratamento, por consequência, tenha início mais tarde. “É necessário um trabalho de conscientização da população e de alguns profissionais da saúde que atendem pacientes com dores nas costas (clínicos gerais, médicos de família, ortopedistas) para que o diagnóstico seja aventado”. 

Outros desafios incluem:

  • Atraso na busca pelos profissionais de saúde pelos pacientes (os pacientes tendem a minimizar a dor);
  • Preparo do profissional de saúde em reconhecer a EpA;
  • Demora da chegada do paciente até o reumatologista, que é o especialista apto a tratar da doença. 

Para dificultar ainda mais o diagnóstico, até o momento nao existe um exame específico para confirmar a doença. Para chegar a essa conclusão, a médica conta que é preciso montar um “quebra-cabeças” com diversas informações. “Reunimos as queixas trazidas pelo paciente, alterações vistas no seu exame físico e exames subsidiários, como os de sangue, e de imagem, como radiografia de coluna e bacia e ressonância magnética de bacia. A presença dessa doença em algum familiar também é importante”.

Esse detalhe, inclusive, serve de alerta aos profissionais: “Precisamos valorizar as queixas dos pacientes para ajudá-los nessa distinção, pois os sintomas da EpA podem ser confundidos com problemas de postura. Precisamos ir a fundo, para não minimizarmos a dor”.  

Tratamento

Hoje, o tratamento para a EpA pode ser dividido em duas partes: medicamentoso e não medicamentoso. “Há uma sequência de medicações que podem ser usadas, como anti-inflamatórios não hormonais e drogas que modificam a inflamação de doenças reumáticas. A escolha das medicações deve ser feita de forma individualizada. Já o tratamento não medicamentoso inclui sono adequado, alimentação saudável, perda de peso, atividade física e a parada do tabagismo”.

ma vida saudável é uma recomendação de todos os médicos, independentemente da especialidade. No caso de quem precisa tratar a EpA, não é diferente.  “A atividade física é de extrema importância, mas deve ser personalizada de acordo com as limitações de cada paciente. Exercícios de alongamento e fortalecimento muscular são os mais indicados”, finaliza a médica.   

Ainda não é possível evitar o aparecimento da doença, mas uma rotina com exercícios físicos e alimentação balanceada ajuda em qualquer situação. Para quem sofre de EpA, a boa notícia é que os tratamentos atuais causam uma melhora significativa na qualidade de vida, e quanto mais cedo forem iniciados, melhor resultado o paciente terá. 

Por Letícia Martins,

Olhar da Saúde-Leticia Martins

Letícia Martins

Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.

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