O efeito montanha-russa: como as oscilações da glicose afetam o cérebro no diabetes tipo 1
Pesquisa indica que grandes variações na glicemia estão associadas a prejuízo de habilidades cognitivas
Você já se perguntou se aquelas quedas ou picos de glicemia ao longo do dia podem afetar sua atenção ou rapidez de raciocínio? Um estudo de pesquisadores da Yeshiva University, do Albert Einstein College of Medicine e da University of Southern California, todas dos Estados Unidos, trouxe uma resposta inovadora para essa pergunta.
Publicado na respeitada revista científica Diabetes Care, da Associação Americana de Diabetes, o trabalho focou, de maneira inédita, nas variações da glicose e no impacto cognitivo delas em 182 adultos com diabetes tipo 1 (DM1) de diferentes idades, etnias e condições socioeconômicas.
Ao contrário da maioria das pesquisas, que analisam a média de glicemia, essa investigação olhou para flutuações em tempo real, medindo a glicose a cada 15 minutos, por 14 dias consecutivos. Os participantes também realizaram testes cognitivos várias vezes ao dia. Tudo isso com ferramentas portáteis, no ambiente em que vivem, trabalham e se alimentam – o chamado “monitoramento ecológico momentâneo”.
A partir daí, o estudo trouxe resultados curiosos:
- Quando a glicose ficava muito baixa (menor do que 70 mg/dL) durante 3 horas, os participantes apresentavam diminuição na velocidade de raciocínio ao final desse período. Mas o efeito não se mantinha 3 horas depois.
- Já quando a glicose estava muito elevada (acima de 250 mg/dL), a velocidade de raciocínio melhorava temporariamente, mas piorava 3 horas depois. Ou seja, um pico de glicose pode “dar um gás rápido e momentâneo” no início, porém cobra a conta na sequência.
- Os níveis de glicemia não influenciaram a atenção sustentada, mas o contrário foi verdadeiro: quanto menor a atenção, pior o controle da glicose nas 3 horas seguintes.
- Pessoas com melhor atenção e cognição tendiam a manter níveis de glicemia mais estáveis, o que pode ter relação com a capacidade de tomar decisões e agir rapidamente diante dos sinais do corpo.
Por que isso importa?
Os resultados mostram que controlar a glicose não é importante apenas para evitar complicações no futuro, como retinopatia ou doenças renais e cardíacas. A oscilação glicêmica impacta o cérebro no presente, afetando a maneira como você pensa, reage e mantém o foco em tarefas do dia a dia.
Além disso, o estudo sugere que o efeito da glicemia sobre o cérebro depende do tempo de exposição: um pico rápido pode parecer inofensivo, mas, se mantido por mais tempo, prejudica o raciocínio. Isso muda nossa percepção sobre o que é um “controle adequado” do diabetes.
No mais, a relação parece ser de duas mãos. Não é só a glicose que afeta o cérebro; o estado mental também impacta os níveis de açúcar no sangue. Ora, um momento de desatenção pode levar a esquecimentos, como não aplicar insulina ou comer sem checar a glicemia, favorecendo picos de glicose depois.
Outro ponto interessante é que tecnologias como monitores contínuos de glicose reduziram o impacto da atenção na variação da glicose. Isso sugere que esses dispositivos podem ser aliados poderosos, especialmente para quem tem dificuldades cognitivas ou uma rotina agitada.
Em suma, essas descobertas reforçam a necessidade de um controle fino da glicemia, prestando atenção não só nos valores médios, mas também nas variações ao longo do dia. Elas sugerem, ainda, que intervenções que melhoram a atenção e a velocidade de processamento mental ajudariam no autocuidado.
16 de abril de 2025
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