Lições de saúde que podemos aprender com a morte do Papa Francisco
A morte de figuras públicas costuma nos fazer refletir sobre temas profundos — e, muitas vezes, sobre a própria vida
Quando líderes religiosos, como o Papa Francisco, falecem em decorrência de doenças como o acidente vascular cerebral (AVC) e a insuficiência cardíaca, somos lembrados de que essas condições não escolhem cargo, fé ou posição social. Mas há um aspecto importante que talvez passe despercebido: as doenças que levam à morte na velhice, como essas, muitas vezes são resultado de décadas de acúmulo de fatores de risco. Isso significa que o cuidado com a saúde começa muito antes dos primeiros sintomas.
Vamos entender por que o AVC e a insuficiência cardíaca são doenças tão importantes para a saúde pública e por que a prevenção, mesmo quando silenciosa, é uma poderosa aliada para uma vida longa e com qualidade.
O que é insuficiência cardíaca?
A insuficiência cardíaca acontece quando o coração não consegue bombear o sangue de forma adequada para o corpo. Isso não significa que o coração parou de funcionar, mas que ele está trabalhando com menos eficiência. Como consequência, órgãos e tecidos não recebem oxigênio e nutrientes na quantidade necessária.
Com o tempo, isso pode levar a sintomas como cansaço excessivo, falta de ar, inchaço nas pernas, palpitações e limitação para atividades do dia a dia. Em fases mais avançadas, o quadro pode se tornar grave, exigindo internações frequentes e aumentando o risco de morte.
E o que é o AVC?
O acidente vascular cerebral, conhecido popularmente como derrame, ocorre quando há uma interrupção no fluxo de sangue para o cérebro. Essa interrupção pode ser causada por um vaso entupido (AVC isquêmico) ou por um sangramento (AVC hemorrágico).
Ambos os tipos são emergências médicas que podem levar a sequelas importantes, como perda de movimentos, dificuldade de fala, alterações cognitivas e, em casos mais graves, à morte. O AVC é uma das principais causas de incapacidade no mundo.
Essas doenças aparecem de repente?
Embora o infarto, o AVC ou a insuficiência cardíaca pareçam surgir “de repente”, a verdade é que, na maioria dos casos, eles são o capítulo final de uma história que começou anos — ou até décadas — antes.
Por trás de um coração enfraquecido ou de uma artéria cerebral obstruída, estão fatores de risco acumulados ao longo do tempo: pressão alta mal controlada, diabetes, colesterol elevado, sedentarismo, excesso de peso, tabagismo, estresse crônico e até sono inadequado.
Muitas vezes, esses fatores estão presentes de forma silenciosa. A pressão alta, por exemplo, pode não causar nenhum sintoma por anos, mas vai agindo aos poucos, sobrecarregando o coração e danificando os vasos sanguíneos.
O que podemos aprender com isso?
A principal lição é: cuidar da saúde não é algo que fazemos só quando sentimos algo errado. A prevenção começa muito antes, com escolhas cotidianas que parecem simples, mas fazem uma enorme diferença no longo prazo.
Aos 30, 40 ou 50 anos, talvez pareça distante imaginar um problema sério no coração ou um AVC. Mas é justamente nesses anos que podemos agir para evitar que eles apareçam no futuro. Isso não significa viver com medo, mas com consciência. A saúde é, em grande parte, construída com hábitos que cultivamos ao longo da vida.
A boa notícia é que muitos dos fatores de risco para essas doenças são modificáveis. Isso quer dizer que é possível reduzi-los — e até revertê-los — com mudanças acessíveis e progressivas.
1. Controlar a pressão arterial
A hipertensão é um dos maiores fatores de risco tanto para AVC quanto para insuficiência cardíaca. Medir a pressão regularmente, reduzir o sal na alimentação, praticar exercícios e, quando necessário, usar medicamentos prescritos são atitudes que protegem o coração e o cérebro.
2. Manter o colesterol e a glicemia sob controle
Alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais e grãos integrais e pobre em ultraprocessados, é fundamental para manter em equilíbrio os níveis de gordura e açúcar no sangue. Em muitos casos, o uso de medicamentos também será necessário — e isso não é sinal de fracasso, mas de cuidado.
3. Praticar atividade física regularmente
Exercícios melhoram a circulação, fortalecem o coração, controlam o peso e reduzem o estresse. Não é preciso virar atleta: caminhadas diárias, dançar ou pedalar já trazem benefícios.
4. Parar de fumar e moderar o álcool
O tabagismo danifica os vasos sanguíneos e acelera o processo de aterosclerose. Parar de fumar é, provavelmente, uma das decisões mais importantes para quem quer viver mais e melhor.
5. Dormir bem e reduzir o estresse crônico
O descanso adequado e a saúde mental são parte essencial da prevenção cardiovascular e neurológica. Dormir mal ou viver sob constante tensão desgasta o organismo de forma silenciosa.
E para quem já tem mais idade?
Mesmo para pessoas idosas, nunca é tarde para adotar bons hábitos. Além disso, os check-ups regulares ganham ainda mais importância, pois permitem detectar sinais precoces de insuficiência cardíaca, alterações neurológicas ou risco aumentado de AVC.
Também é fundamental seguir corretamente as orientações médicas, manter os exames em dia, tomar os medicamentos prescritos e observar sinais de alerta, como cansaço sem motivo, tonturas frequentes, dor no peito ou formigamentos.
O cuidado com a saúde é um legado
A morte de líderes, como o Papa Francisco, nos lembra que a vida é preciosa e que a saúde é um bem que devemos cultivar com carinho. Não se trata de viver em função da doença, mas de viver com mais consciência, autonomia e qualidade.
Cuidar da saúde hoje é, na verdade, um ato de responsabilidade com o nosso “eu” do futuro. É também um exemplo para as gerações seguintes, que aprendem mais com os nossos hábitos do que com as nossas palavras.
A prevenção não é um discurso alarmista, mas um convite ao cuidado. E o momento certo para começar não é quando já estamos doentes — é agora. Porque cada pequena decisão de hoje pode representar mais anos de vida com autonomia e bem-estar lá na frente.
22 de abril de 2025
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