Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Alimentos orgânicos

Alimentos orgânicos são realmente mais nutritivos? A ciência avalia

Estudo brasileiro compara alimentos cultivados com e sem agrotóxicos, com foco em possíveis diferenças do ponto de vista de nutrição

Por muito tempo, os alimentos orgânicos foram vendidos como a opção mais saudável: livres de agrotóxicos e mais ricos em nutrientes. Mas será que essa fama é justificada? Um time de pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da Universidade Federal da Grande Dourados e da Universidade Federal de Goiás foi a fundo na questão. O resultado? A história não é tão “preto no branco” quanto parece.  

Os cientistas analisaram 147 estudos publicados nas últimas três décadas. Com isso, conseguiram comparar 1.779 amostras de 68 alimentos diferentes, divididos em três grupos:  

  • Frutas (como uva, banana e goji berry).  
  • Vegetais (tomate, batata e cenoura).
  • Cereais e leguminosas (trigo, lentilha e castanha-de-caju).  

Eles avaliaram micronutrientes, desde vitaminas e minerais, até a presença de metais pesados, como chumbo e cádmio. A pergunta central era: os orgânicos são mesmo melhores que os convencionais?  

A resposta é… depende  

Depois de cruzar todos os dados, os pesquisadores descobriram que:  

  • Em 42% dos casos, não houve diferença significativa entre orgânicos e convencionais. Ou seja, muitas vezes, o valor nutricional era praticamente o mesmo.
  • Em 29% das comparações, os orgânicos levaram vantagem em alguns nutrientes – mas não em todos.
  • Em outros 29%, os resultados foram inconclusivos: alguns estudos diziam que o orgânico era melhor, enquanto outros não viam diferença.  

Ou seja: não existe um veredito único. A suposta superioridade depende do alimento e do nutriente. Vejamos alguns casos:

  • A vitamina C apareceu em maior quantidade em 85% das análises.
  • O magnésio e o potássio também foram mais abundantes em frutas e vegetais orgânicos.  

Por outro lado, os convencionais levaram a melhor em:  

  • Licopeno e betacaroteno (presentes no tomate e na cenoura): suas concentrações chegaram a ser 100% mais elevadas nos não orgânicos.
  • Carboidratos: os itens cultivados com agrotóxicos apresentaram mais amido do que as versões orgânicas, como no caso da batata convencional.  

E os agrotóxicos?  

O estudo não analisou resíduos de pesticidas, já que o cultivo orgânico não os utiliza – embora isso possa ser considerado na hora de escolher entre as opções no mercado. Mas avaliou metais pesados e nitratos, que podem ser prejudiciais em excesso. E aqui, novamente, os resultados foram mistos:

  • Cenouras orgânicas tinham mais alumínio.
  • O arroz convencional apresentou níveis superiores de alumínio.
  • Nitratos, comuns em vegetais folhosos, apareceram mais nos orgânicos em alguns estudos.  

Ou seja: nem sempre “orgânico” significa “livre de contaminantes”. É importante destacar que tanto o cultivo convencional quanto o orgânico estão sujeitos a poluentes ambientais devido a fatores climáticos.

O que isso significa na prática?  

Se você escolhe orgânicos pensando só na nutrição, talvez esteja pagando mais caro sem um benefício claro. Agora, isso não significa que as versões livres de agrotóxicos não carreguem vantagens. Destaco algumas:

  • Menor impacto ambiental: a agricultura orgânica geralmente usa menos produtos químicos sintéticos.
  • Questão ética: muitas pessoas preferem apoiar pequenos produtores ou sistemas de cultivo mais naturais.  

Por outro lado, se o objetivo é uma dieta equilibrada, o mais importante é priorizar alimentos frescos e variados – sejam orgânicos ou não.  

No fim das contas, o melhor caminho é comer mais frutas, verduras e grãos integrais (independentemente do rótulo), lavar bem os alimentos para reduzir resíduos indesejados e variar as fontes para garantir um bom mix de nutrientes.  

Se o orçamento permitir e for uma escolha pessoal, os orgânicos são uma opção válida – só não a única forma de se alimentar bem.

Por Marcos Fortes,

Olhar da Saúde-Marcos de Sá

Marcos Fortes

Educador físico, doutor em Clínica Médica e pós-doutor em Psicologia pela UFRJ e pesquisador do IPCFEx do Exército Brasileiro.

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