Aparelho bucal contra apneia do sono se mostra promissor no controle da hipertensão
Um estudo apresentado no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia mostra que boa parte do benefício se deve a um melhor engajamento ao tratamento
Um aparelho que empurra a mandíbula para frente se mostrou tão eficaz quanto o tradicional equipamento de CPAP para controlar a pressão arterial de pessoas com síndrome da apneia obstrutiva do sono. Isso segundo o estudo CRESCENT, apresentado em Atlanta (Estados Unidos) no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia.
A tal apneia do sono é uma condição comum, em que a pessoa para brevemente de respirar enquanto dorme porque estruturas da boca e da faringe interrompem o fluxo de ar para os pulmões – o que pode acontecer várias vezes à noite. Com isso, o sono profundo (que é o mais reparador) fica comprometido.
Entre as manifestações, surgem roncos, prejuízo da memória, cansaço, irritabilidade e sonolência durante o dia. Além da perda de qualidade de vida, há o aumento do risco de infarto, AVC e hipertensão. Por tudo isso é que a condição merece ser levada a sério, e o tratamento não é opcional.
A terapia padrão-ouro para a maioria dos casos moderados a graves é o uso do CPAP – um aparelho que joga um fluxo de ar com pressão aumentada para evitar que a faringe feche as vias aéreas. O equipamento é conectado ao paciente por meio de uma máscara que cobre o nariz (e, às vezes, a boca).
O ponto crucial é que muitos pacientes não conseguem utilizar o aparelho todas as noites, ou a noite toda. No consultório, vejo que alguns deles se incomodam com a máscara e ficam relutantes.
No cenário em que foi conduzido o estudo CRESCENT, foram incluídos 220 participantes com apneia do sono de graus moderado a grave associada a hipertensão arterial, com idade média de 61 anos. Entre eles, 85% eram homens.
Metade dos participantes usou CPAP e a outra metade recorreu ao aparelho de avanço de mandíbula, que mencionei antes. Ao final de seis meses de acompanhamento, reduções semelhantes da pressão arterial foram alcançadas pelos dois métodos testados.
Mas aí chegamos à questão da adesão: nessa pesquisa, apenas 23% dos voluntários do grupo do CPAP utilizaram a máscara por mais de seis horas por noite, ao passo que, na outra turma, 56% mantiveram o aparelho de avanço de mandíbula na boca por esse tempo.
E na prática clínica? Esse estudo mostra o quão desafiador é engajar o paciente em qualquer terapia contra a apneia do sono – ora, 56 é melhor do que 23, mas eu gostaria de chegar perto dos 100!
No mais, se considerarmos todos os estudos disponíveis, as evidências científicas mais robustas são favoráveis à utilização do CPAP. Porém, caso haja intolerância do paciente ao uso da máscara, o aparelho de avanço mandibular representa uma alternativa.
9 de abril de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.