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Asma: adesão ao tratamento e novas terapias são as vias para o controle das crises

Seguir as recomendações médicas é crucial para trazer alívio e qualidade de vida aos pacientes. E as formas mais graves da doença vêm contando com inovações terapêuticas promissoras

Dificuldade para puxar o ar, chiados e sensação de opressão no peito ao colocar a cabeça no travesseiro são velhos conhecidos de quem tem asma. É que a doença inflamatória crônica dos brônquios desencadeia inchaço nas vias aéreas e secreções que atrapalham o caminho da respiração. 

E não são poucos os que vivem com essa condição capaz de prejudicar, e muito, a qualidade de vida. A pneumologista Lilian Ballini, coordenadora da Comissão Científica de Asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia  (SBPT), dá um panorama: a asma acomete em torno de 20 milhões de pessoas no Brasil e 300 milhões em todo o mundo. “E, embora seja a quarta causa de internação no país, esse grave problema de saúde pública muitas vezes é negligenciado”, lamenta. 

Com isso, continua sendo significativo o risco de hospitalizações e de mortes. Em estudo apresentado na conferência 2024 da American Thoracic Society (ATS), um dos maiores congressos de pneumologia do mundo, o médico brasileiro Marcelo Rabahi apontou que, no país, acontecem de 6 a 7 óbitos diários, 2.500 por ano, por complicações da asma.

De acordo com Lilian Ballini, a demora tanto no diagnóstico quanto na identificação de crises agudas, assim como o atraso no início de tratamento, coloca a pessoa sob risco de episódios cada vez mais frequentes e severos.

O diagnóstico da asma é baseado em sintomas variados e recorrentes – tosse, chiado no peito, opressão torácica e falta de ar. “Eles podem vir isolados ou associados, especialmente quando desencadeados por certos fatores, entre eles exercício físico ou presença de alérgenos”, explica a médica da SBPT. “Exames como a espirometria, que avalia a capacidade pulmonar, ajudam na confirmação e classificação da gravidade da doença”, complementa.

Engajamento do paciente é chave para o cuidado

“A falta de adesão ao tratamento proposto é um dos entraves para o controle da asma”, diz o pneumologista e alergologista Álvaro Cruz, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro do Conselho Diretor da Iniciativa Global contra Asma (Gina, na sigla em inglês).

“Por isso é tão relevante educar o paciente. Ele deve compreender que, mesmo na ausência de sintomas, se beneficiará com a terapia prescrita, reduzindo o risco de exacerbações”, complementa Lilian Ballini. 

A decisão sobre o plano terapêutico precisa considerar a heterogeneidade da doença, que apresenta subtipos. “Muitos casos são influenciados pela presença de alergias respiratórias como gatilhos de sintomas”, exemplifica Lilian. Há ainda a asma de início tardio, aquela induzida por esforço físico, outra com limitação de fluxo de ar ou ainda o tipo relacionado à obesidade. Cada particularidade influencia o caminho a ser seguido. “O tratamento varia de acordo com o tipo de inflamação, a gravidade da asma e risco futuro de complicações”, esclarece a médica. 

Quando o quadro permite, é possível até orientar soluções não medicamentosas, que envolvem cuidados ambientais, evitando os estopins, especialmente fumaça de cigarro e odor forte. A redução de peso pode ser um requisito importante. 

As opções farmacológicas, para casos moderados, esclarece Álvaro Cruz, se baseiam em uso de corticoide inalável, para reduzir a inflamação. Quando as conhecidas bombinhas não são suficientes, entram em cena um ou dois broncodilatadores. 

Terapia tripla e imunobiológicos para os casos graves

Se o uso regular e por tempo indeterminado de qualquer medicamento já é por si só um obstáculo para levar adiante um tratamento, a necessidade de usar três remédios constantemente, comum nos casos de asma grave, é um complicador e tanto para a adesão. 

Daí porque foi bem recebida a notícia de que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 2023 a primeira terapia tripla combinando três ativos para manejo da asma – um único dispositivo utilizando dois broncodilatadores junto com corticoide inalatório. 

Liberado para uso em adultos, o produto desenvolvido pela biofarmacêutica Chiesi pode simplificar a rotina terapêutica e proporcionar mais eficácia contra os sintomas. De acordo com dados clínicos do estudo que subsidiou a liberação, a terapia tripla conseguiu diminuir em 15% a taxa de exacerbações mais intensas dos pacientes ao longo de um ano.

Quando todas as linhas e etapas de tratamento não dão conta de refrear a asma grave e suas repercussões, a saída pode estar nos chamados imunobiológicos. “Esses são medicamentos considerados personalizados. São prescritos de acordo com o perfil de inflamação de base de cada indivíduo, avaliado por meio de biomarcadores no sangue”, descreve Lilian Ballini. “Os imunobiológicos atendem entre 3 e 10% dos pacientes com asma, aqueles em que todos os demais recursos falharam. Nesse grupo, esses fármacos têm demonstrado bons resultados em termos de redução de crises aguda, hospitalizações e melhora da qualidade de vida”, completa. 

Hoje no Brasil existem quatro imunobiológicos aprovados, todos incorporados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), ou seja, estão ao alcance de quem conta com plano de saúde. O Serviço Único de Saúde (SUS), por sua vez, disponibiliza apenas dois desses medicamentos, o que gera uma discussão importante sobre a necessidade de ampliação do acesso a esses recursos. 

Para Lilian Ballini, o não reconhecimento do impacto na saúde pública gerado pela asma é um dos responsáveis pelo pequeno percentual de pacientes com controle pleno da doença, alcançado por somente 12% deles. 

Padrão-ouro de terapia personalizada, o tratamento farmacológico da asma tem evoluído bastante com os imunobiológicos. “O reconhecimento de outros pontos da cascata de inflamação propiciará o aparecimento de novos medicamentos dessa classe”, aposta a Lilian Ballini. 

Além disso, ela acredita que o avanço de pesquisas sobre mecanismos epigenéticos, que investigam o elo entre estímulos ambientais e a ativação ou desativação de genes, também deve render no futuro opções cada vez mais eficazes e individualizadas para asma. 

Por Goretti Tenorio,

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Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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