Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Dentes brancos e saudáveis

Dentes brancos e saudáveis: como escolher o creme dental?

As prateleiras estão repletas de diferentes marcas e promessas (anticárie, branqueador, para dentes sensíveis). Entender os componentes e as necessidades terapêuticas ajuda na tomada de decisão

Muito além da função cosmética, a dupla escova e pasta de dente deve entrar em cena no mínimo duas vezes ao dia para garantir a saúde da boca. “Creme dental é essencial na prevenção da cárie”, pontua a cirurgiã-dentista Juliana Dória Maia, professora de Materiais Dentários da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). 

A cárie ainda hoje é uma questão de saúde pública. As lesões na superfície dentária surgem pela ação de bactérias que se alimentam do açúcar que ingerimos – lembrando que este faz parte de um sem-número de produtos, como pão, biscoito, suco e por aí vai. Quando escovamos os dentes, além da remoção dos detritos, o flúor ajuda a promover mais resistência contra a acidez produzida pelas bactérias, preservando a estrutura do dente. 

O ponto inegociável na hora da compra, portanto, é que o produto tenha flúor na formulação. Essa questão é tão relevante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu as pastas fluoretadas na lista de medicamentos essenciais. 

“Se não houver outra prescrição específica, o importante é ter certeza de que a pasta de dente tem flúor numa concentração de pelo menos 1.000 ppm [partes por milhão]”, ensina Juliana Maia. 

Os cremes dentais podem apresentar três tipos desse componente: monoflúor-fosfato de sódio, fluoreto de sódio e fluoreto de estanho. “Todos têm papel anticárie, sendo que o fluoreto de estanho tem ainda ação antigengivite e antierosão”, complementa a dentista. 

De acordo com a professora da UFF, os demais tipos também apresentam particularidades. Quando há necessidade de um componente abrasivo, o monoflúor-fosfato de sódio pode ser associado ao carbonato de cálcio, que tem produção mais barata, sendo por isso mais acessível. “Já se a fórmula tiver monoflúor-fosfato de sódio ou fluoreto de estanho, é a sílica hidratada que cumpre a função abrasiva”, exemplifica. 

Os abrasivos, aliás, integram a composição dos produtos para proporcionar polimento capaz de retirar manchas e placas. “Juntamente com os detergentes, importantes para remover gordura e biofilme, essas partículas são responsáveis pela limpeza”, diz Juliana. 

Também encontrados nos tubos, os flavorizantes dão sabor e aroma agradável aos cremes dentais. “Eles ajudam a melhorar a escovação, fazendo com que as pessoas dediquem um pouco mais de tempo a essa atividade. “São necessários pelo menos dois minutos a cada sessão, tempo para que o flúor e os demais agentes terapêuticos atinjam todos os dentes, mas em geral essa higienização dura apenas 40 segundos”, alerta Juliana. A cirurgiã-dentista, inclusive, dá duas dicas para quem costuma cumprir a tarefa apressadamente. A primeira é não molhar a escova ao colocar a pasta. “A água provoca mais espuma e com isso a tendência é cuspir logo e interromper a escovação”, justifica. Outra sugestão é escolher uma música com duração de dois minutos ou um pouco mais e só parar a limpeza quando ela acabar. Além de ajudar na marcação do tempo, esse embalo promove um momento de lazer e relaxamento, num ganho duplo.

Terminada a escovação, orienta a dentista, o ideal é só expelir o creme dental, sem enxaguar. “Veja, o fluoreto é considerado um medicamento essencial pela OMS, certo? Se você usa uma pomada para um problema dermatológico, não vai lavar imediatamente a área em que ela foi aplicada. O mesmo vale para os agentes da pasta de dente”, pondera. Se pelo hábito for difícil não bochechar logo depois da escovação, é bom então usar o mínimo possível de água no enxágue. 

Gengivite, mau hálito e sensibilidade

A profilaxia realizada por um profissional é fundamental quando há outras necessidades terapêuticas a considerar, como a gengivite, inflamação nas gengivas, e a halitose, o incômodo mau hálito. “Nesses casos, o ideal é ter acompanhamento. Se houver a presença de placa ou tártaro, causando inflamação, o dentista vai fazer a remoção e então orientar sobre a forma correta de escovar, além de indicar o creme dental mais adequado para diminuir a produção do biofilme”, recomenda. Os produtos considerados antigengivite em geral contam com fluoreto de estanho e triclosan, um antimicrobiano. “Os dois componentes, além dos sais de zinco, são opções também contra a halitose”, afirma Juliana Maia. Já a tendência de formar tártaro, a placa bacteriana endurecida, pode ser mitigada com o uso de creme dental com pirofosfato de sódio.

No quesito dentes sensíveis, por sua vez, uma queixa bastante comum, é prudente começar com uma ida ao dentista para checar a causa. “O uso de creme dental para esse fim até atua no sintoma e diminui a dor quando usado na escovação, mas o uso indiscriminado é capaz de mascarar um problema como a dentina exposta pela perda de esmalte e essa condição se agravar”, explica Juliana. Após tratar a erosão dentária, se for esse o caso, é possível que o dentista recomende uma pasta dessensibilizante para o dia a dia. O produto pode ter ação neural, que bloqueia o impulso nervoso causador da dor, ou mecânica, que veda o túbulo dentinário no momento em que é usado.

Pastas de dente clareadoras funcionam?

“Não há comprovação científica de segurança e eficácia de itens com carvão ativado, por exemplo”, responde Juliana Maia. “Eles inclusive podem causar manchas nas gengivas e em restaurações dentárias”, completa. Os demais cremes, mesmo quando têm algum agente clareador, ficam tempo insuficiente em contato com os dentes na escovação para promover o clareamento”, continua. Além disso, os cremes que prometem dentes mais brancos podem ter formulações mais abrasivas e com potencial de fomentar irritações e hipersensibilidade.

Existe alternativa para quem sofre com aftas frequentes?

Nesse caso, vale a pena investigar se o problema está associado a um detergente mais irritante, caso do lauril sulfato de sódio, e buscar substituições. Alguns flavorizantes, como os de menta e canela, também podem agredir a mucosa. 

E quando é necessário usar cremes com concentração maior de flúor?

“A OMS considera essencial que a pasta de dente tenha entre 1.000 e 1.500 ppm de fluoreto. Mas há indicações específicas para a concentração de 5.000 ppm”, diz Juliana Maia. “Idosos com maior exposição de dentina e risco de cárie radicular, ou seja, na raiz do dente, é um dos casos”, aponta. O recurso pode ser recomendado ainda a pessoas com aparelhos ortodônticos, que, com a dificuldade da higienização, estão mais propensas mais formação de biofilme. Vale lembrar que esse tipo de produto requer prescrição do dentista. 

Herbais, fitoterápicos e receitas caseiras

“Não há evidências científicas provando eficácia de substâncias como xilitol, que vem sendo associado a uma ação anticárie. Esse papel é do fluoreto”, reforça Juliana. Da mesma forma as chamadas receitas caseiras, sugerindo uso de bicarbonato, pó de juá, cúrcuma. “Elas podem inclusive promover irritação da mucosa. Para quem busca um estilo mais natural de vida, existem no mercado produtos veganos com fluoreto na composição”, orienta. 

Que creme dental comprar para crianças?

Os produtos propagandeados para os pequenos costumam ter sabores mais atraentes ao paladar infantil, mas o mais importante é garantir a quantidade certa de flúor na composição. “Se tiver 1.000 ppm, o produto pode ser usado por toda a família”, afirma Juliana. E, seja qual for a opção, tem que ficar de olho na quantidade usada na escova. “Até os 3 anos, deve ser o correspondente a um grão de arroz. A partir dessa idade e até os 7 anos, um grão de ervilha. E então passar a usar um tanto que ocupe metade da cabeça da escova”, arremata.

Por Goretti Tenorio,

Olhar da Saúde-Goretti Tenorio

Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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