IDF propõe novos critérios para diagnóstico do diabetes tipo 2
Novo posicionamento da Federação Internacional de Diabetes tem como objetivo detectar precocemente o risco de desenvolvimento da DM2
Você provavelmente conhece alguém com diabetes. Essa é uma condição crônica caracterizada pelo aumento da taxa de açúcar (glicose) no sangue, chamada de hiperglicemia, que atinge mais de meio bilhão de pessoas no mundo e mais de 20 milhões no Brasil, segundo o Censo 2022 divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com muitos tipos diferentes, a doença pode se manifestar em qualquer idade e gênero.
O tipo mais comum é o diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Causado por hábitos de vida não saudáveis, como má alimentação e falta de exercícios físicos, o DM2 geralmente passa despercebido durante anos. “No DM2, ocorre uma dificuldade da ação da insulina produzida pelo pâncreas, levando a sintomas mais leves e muitas vezes difíceis de serem identificados pela própria pessoa com diabetes. Por isso, é importante fazer o rastreamento do DM2, mesmo sem sintomas”, expõe a médica endocrinologista Vanessa Montanari, do IBTED – Tecnologia e Educação em Diabetes, sediado em São Paulo (SP).
Atualmente, para detectar os níveis de glicose no sangue, são realizados exames laboratoriais. Um deles é feito em jejum de pelo menos 8 horas. O outro é o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), que deve ser realizado duas horas após a ingestão de 75 g de açúcar (glicose). O TOTG deve ser feito diante de dois ou mais fatores de risco para diabetes. Os resultados indicam DM2 quando a glicemia de jejum for maior ou igual a 126 mg/dL, e igual ou superior a 200 mg/dL no período de 2 horas após a sobrecarga de 75 g de glicose.
Quando a hemoglobina glicada (HbA1c) apresenta resultado maior ou igual a 6,5%, indica que a pessoa tem DM2, segundo preconização da Associação Americana de Diabetes (ADA), seguida por outras sociedades médicas, inclusive a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). “Para que o DM2 seja diagnosticado, é necessário que dois exames estejam alterados. Se somente um exame estiver alto, o teste deverá ser repetido para confirmação”, explica Vanessa.
Por outro lado, se a glicemia de jejum ficar entre 100 e 125 mg/dL ou o resultado do TOTG estiver entre 140 e 199 mg/dL, dizemos que a pessoa tem pré-diabetes, um termo usado para alertar que ela está muito próxima de desenvolver o DM2 e que precisa adotar hábitos de vida saudáveis o mais rápido possível.
Mudanças em debate
Porém, é possível que esses parâmetros mudem em breve, segundo uma proposta de atualização da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), que revisou dados epidemiológicos dos últimos 40 anos que confirmam o valor superior do TOTG de 1 hora após a sobrecarga de 75 g de glicose.
“A IDF propõe considerar o valor de igual ou superior a 155 mg/dL no TOTG de 1 hora como hiperglicemia intermediária, e igual ou maior que 209 mg/dL como diabetes tipo 2. Além disso, a IDF recomenda que esses pacientes devem receber prescrição de intervenção no estilo de vida e encaminhamento para um programa de prevenção de diabetes”, disse a endocrinologista Hermelinda Pedrosa, vice-presidente médica da IDF e assessora de Relações Internacionais da SBD. A expressão “hiperglicemia intermediária”, citada por Hermelinda, é outra alteração proposta pela IDF, em substituição ao termo “pré-diabetes”.
Para chegar a esse novo parâmetro, a IDF reuniu 22 especialistas de 15 países, incluindo a pesquisadora brasileira Maria Inês Schmidt, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), referência na área. Mas vale ressaltar que as mudanças ainda precisam ser consolidadas junto à Organização Mundial da Saúde (OMS) para que possam ser adotadas.
Com a mudança, a população considerável e crescente de indivíduos com risco aumentado de DM2 seria alertada e prevenida, evitando que o número de casos de DM2 continue crescendo. “A ideia é que esse novo critério laboratorial seja gradualmente implementado pelos serviços de saúde, visto que ele pode representar ganho de tempo e de agilidade no diagnóstico de diabetes, além de redução de custo”, esclarece Hermelinda.
Este ano, o debate ganhará força com discussões de representantes da IDF em vários países. Aqui no Brasil, por exemplo, esse tema fará parte de um simpósio no 3º Fórum de Atualização do Diabetes da SBD, que acontece entre os dias 1º e 3 de maio, em Fortaleza (CE), e que conta com a Dra. Hermelinda como uma das coordenadoras.
Fatores de risco e a importância do diagnóstico precoce
Hermelinda destaca que há diversos fatores que aumentam o risco de desenvolvimento do DM2, como idade avançada, sedentarismo, hipertensão, apneia do sono, esteatose hepática (acúmulo de gordura nas células do fígado), fibrose cística, predisposição genética, bem como de complicações micro e macrovasculares e, nas mulheres, ainda o fator de diabetes gestacional.
“Todas essas condições favorecem o diabetes. Então, pessoas que já possuem um ou mais desses diagnósticos devem fazer a avaliação glicêmica, pois têm um risco consideravelmente maior para DM2”, afirma a assessora de Relações Internacionais da SBD.
Para finalizar, a médica ressalta que existe prevenção para a maioria dos casos de DM2. Aderir a uma alimentação saudável e equilibrada, exercitar-se pelo menos 150 minutos por semana e manter o peso ideal são alguns cuidados importantes para afastar o DM2.
3 de maio de 2024
,Letícia Martins
Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.