Labirintite: um caminho que pode ser longo, mas que precisa ser percorrido
Chegar à saída – ou ao diagnóstico – dessa inflamação pode representar a manutenção da qualidade de vida, longe de sintomas genéricos, nem por isso menos desagradáveis
A mitologia grega, repleta de aventuras com deuses, heróis e outras criaturas, também responde pela história do labirinto, construção cuja saída pode representar um desafio enorme para quem se vê dentro dela. O Minotauro, figura com a cabeça de um touro sobre o corpo de um homem, foi morto pelo herói Teseu dentro do Labirinto de Creta – situação que se segue a várias desventuras com outros personagens, dos quais fazem parte as clássicas tragédias gregas.
Existe outro tipo de labirinto que, se não chega a representar uma tragédia, pode virar drama. Trata-se da região interna ligada à audição, noção de equilíbrio e percepção de posicionamento corporal. Um tecido ósseo e outro membranoso compõem a estrutura, que tem formato de caracol – daí o nome – e se divide em labirintos posterior e anterior. O problema começa quando essa região apresenta uma inflamação que pode gerar vários sintomas e atende pelo nome de labirintite.
A tontura, um desses sintomas, é altamente comum. Assim como é frequente confundi-la com a vertigem, que acontece quando a pessoa sente o seu entorno girar mesmo quando ela está parada. Casos como esses, que não têm hora para começar, trazem o perigo adicional de acidentes, uma vez que o paciente pode estar na rua, ou dirigindo, ou operando alguma máquina complexa durante o trabalho – sem ter ideia do que está acontecendo!
Ciente de ter algum problema, o paciente minimamente atento à sua saúde tende a buscar ajuda médica, a partir de quando ele pode dar início a uma verdadeira – e necessária – caminhada. Isso porque esses sintomas, somados a sudorese, alterações gastrointestinais, náuseas, vômitos e dificuldade para focar os olhos, são notavelmente genéricos, dificultando o diagnóstico. Outro fator complicador é que essas sensações podem levar dias para ir embora, com chance de retorno quando o indivíduo faz movimentos rápidos com a cabeça.
A suspeita diagnóstica vem com uma conversa com o médico e exame físico básicos. Um dos exames complementares que auxiliam na detecção da labirintite é a vectoeletronistagmografia, procedimento bastante simples para o nome que tem. É ele que avalia o aparelho vestibular, onde o (nosso) labirinto está inserido, fazendo a observação de movimentos oculares involuntários, aos quais se dá o nome de nistagmos. O otorrinolaringologista é o especialista que solicita o exame para confirmação (ou não) dessa hipótese. O teste não leva mais do que 60 minutos e é indolor, embora o paciente possa sentir desconfortos e até náuseas, devido à possibilidade de as regiões estimuladas representarem o foco do problema.
As causas para a labirintite também podem requerer investigação. Infecção viral, traumas cerebrais, hipertensão, otite, colesterol alto e até o consumo excessivo de cafeína e/ou de ácido acetilsalicílico – a famosa aspirina – estão entre elas. O tratamento varia desde medicamentos até técnicas de fisioterapia, reabilitação vestibular e mudança de estilo de vida. O sujeito disposto a prevenir novos episódios de labirintite, restituindo o seu bem-estar no dia a dia, pode seguir algumas recomendações importantes: evitar ambientes com fortes barulho e luminosidade, beber muita água, reduzir o tempo de tela, evitar chocolate, café e bebidas alcoólicas e abandonar o tabagismo.
Se os caminhos para a detecção da labirintite podem ser longos e até tortuosos, o percurso para a resolução ou atenuação dela pode ser abreviado – nas quais a participação do próprio paciente é fundamental!
27 de agosto de 2024
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