Medicamento para doença renal crônica volta a apresentar excelentes resultados contra a insuficiência cardíaca
A chamada finerenona chama mais uma vez a atenção dos pesquisadores por sua capacidade de conter os estragos desse problema no coração
A finerenona é um medicamento já disponível há um bom tempo. Nós recorremos a ela para, por exemplo, lidar com estágios mais avançados da doença renal crônica em pacientes com diabetes. Mas, mais recentemente, essa medicação passou a chamar a atenção dos cardiologistas por seu potencial contra a insuficiência cardíaca.
Eis que, em um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Londres, a finerenona foi colocada à prova contra um tipo específico de insuficiência cardíaca: a de fração de ejeção preservada.
Nesse quadro, o coração não consegue relaxar adequadamente para receber o sangue oxigenado dos pulmões e, posteriormente, bombeá-lo para irrigar o restante do corpo. Antigamente, ele era chamado de insuficiência cardíaca diastólica.
O problema é comum em pessoas com obesidade, diabetes tipo 2 e pressão alta e pode promover sintomas como falta de ar, inchaço nas pernas, fadiga, desânimo e grande queda da qualidade de vida. A taxa de mortalidade infelizmente é alta.
Na pesquisa, chamada de FINEARTS-HF, a finerenona foi testada em pessoas com e sem diabetes tipo 2. Foram incluídos cerca de 6 mil participantes com idade média de 71 anos, que vinham recebendo os medicamentos clássicos para essa versão de insuficiência cardíaca. Metade recebeu a adição de um comprimido ao dia de finerenona, enquanto a outra ficou só com o placebo – lembrando que todos continuaram com o tratamento convencional.
Ao final de cerca de 3 anos, aqueles que receberam a finererona tiveram um risco 16% menor de apresentar uma piora da insuficiência cardíaca e morte por causa cardiovascular. Importante destacar, por outro lado, que não houve melhora em testes de capacidade funcional, como caminhar, subir escadas e subir terrenos inclinados – apesar de o medicamento ter melhorado os resultados em questionários de qualidade de vida.
Dentre os efeitos colaterais, o mais comum foi o aumento do potássio, o que é potencialmente grave (não à toa, esse tipo de medicamento deve ser ingerido com acompanhamento rigoroso).
Ainda assim, é uma notícia para se comemorar. Até o momento, os medicamentos que mostravam reais benefícios nesses pacientes eram os inibidores de SGLT2 – uma classe originalmente criada para tratar diabetes tipo 2 e que expele sódio e glicose pela urina. Agora possuímos mais uma arma com evidências científicas contra a insuficiência cardíaca.
Como o estudo acabou de ser apresentado, ainda não está prevista em bula a prescrição de finerenona contra a insuficiência cardíaca no Brasil. Mas certamente isso acontecerá em breve.
Não é a primeira vez que vemos excelentes resultados com a finerenona. Anos atrás, estudos específicos em pessoas com diabetes tipo 2 que tinham algum grau de insuficiência renal crônica apontaram que ela reduziu a velocidade da progressão da insuficiência renal e o risco de infarto do coração, derrame cerebral e morte cardiovascular.
Tanto a doença renal quanto a insuficiência cardíaca – alvos da finerenona – se associam com uma grande redução da expectativa de vida e piora do bem-estar. Ainda assim, muitas vezes são subdiagnosticadas nas consultas de rotina.
Por isso, quem possui obesidade, diabetes, pressão alta ou colesterol elevado deve ter um seguimento médico regular e relatar quaisquer sintomas diferentes que surjam ao longo do tratamento. Controlar bem essas condições ajuda, e muito, a evitar quadros de insuficiência cardíaca e renal.
6 de setembro de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.