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Nova vacina para vírus sincicial respiratório chega ao Brasil.Há diferenças entre os dois tipos registrados por aqui?

Ambas constituem importante ferramenta no combate à infecção pulmonar grave. Saiba mais sobre as similaridades e as especificidades de cada uma

Uma chegou ao país em 2023, a outra em 2024: respectivamente, a Arexvy, produzida pela farmacêutica GSK, e a Abrysvo, da Pfizer. Em comum, elas compartilham o fato de serem do tipo inativado, ou seja, não têm a capacidade de provocar doença e são aplicadas via intramuscular, em dose única. E, o mais importante, têm eficácia comprovada contra o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por infecções pulmonares que podem evoluir de forma severa. 

“O VSR é um vírus implicado habitualmente nos dois extremos da vida, os bebês e os idosos, embora possa infectar pessoas em qualquer idade”, diz o infectologista Ricardo Bonifácio, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “Sua circulação acontece no Brasil com relativa sazonalidade, em geral de maio a setembro, especialmente nos períodos mais frios, mas tem incidência ao longo do ano todo”, avisa. 

Transmitido por gotículas eliminadas em tosse e espirros, o vírus entra no organismo pelas mucosas de nariz, boca e olhos e chega aos pulmões. Sobretudo nas crianças de até 2 anos de idade, uma das repercussões mais temidas do VSR é a bronquiolite, inflamação nos bronquíolos, pequenas ramificações que têm como função transportar o ar até os pulmões. “Acompanhado de sibilo e falta de ar, os sintomas mais característicos dessa condição, o quadro pode ocorrer conjuntamente a uma pneumonia bacteriana, aumentando a gravidade e por vezes exigindo internação e suporte ventilatório”, observa Ricardo Bonifácio. “Em adultos com asma ou com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), o VSR é também causa frequente de exacerbação dessas doenças, com pneumonia associada”, completa.

Duas vacinas, dois públicos beneficiados

Aplicado no Brasil desde 2023, o imunizante Arexvy é indicado para os idosos – de acordo com recomendação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a partir dos 70 anos e para os 60+ que apresentem comorbidades. “Cardiopatas, pneumopatas, indivíduos com diabetes, doença renal crônica e aqueles em tratamento imunossupressor, como os transplantados, estão associados a maior probabilidade de desenvolver doenças respiratórias do trato inferior em suas formas mais graves”, justifica Ricardo Bonifácio. Embora não seja classificada tecnicamente como bivalente, os ensaios clínicos mostraram eficácia similar contra as cepas A e B do VSR.

A Abrysvo, por sua vez, igualmente destinada ao grupo dos idosos, tem formulação bivalente, elaborada com antígenos dos subtipos A e B. Sua principal particularidade é ser a única vacina aprovada para uso também em grávidas. “É oferecida para mulheres entre 32 e 36 semanas de gestação, mas está licenciada para uso a partir da 24ª semana, se o médico julgar que a paciente tem risco aumentado de infecção pelo VSR”, esclarece o especialista. 

A ideia é que a Abrysvo proteja o recém-nascido, pela transferência de anticorpos da mãe, nos seis primeiros meses de vida. Ricardo Bonifácio aponta ainda que não há recomendação de aplicar a vacina após 36 semanas de gravidez porque é necessário um tempo mínimo de ação na gestante para salvaguardar o bebê.  

De acordo com o infectologista, acredita-se que a proteção da Abrysvo se estenda por dois anos após a administração, ou seja, justamente o principal período de ocorrência de casos mais graves de infecção por VSR nos pequenos – dado que por si só poderia servir como argumento para a incorporação das doses no Programa Nacional de Imunizações (PNI), de forma a ampliar o acesso. Hoje os dois imunizantes aprovados por aqui só estão disponíveis na rede privada de vacinação.

Por Goretti Tenorio,

Olhar da Saúde-Goretti Tenorio

Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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