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Obesidade: novo critério para diagnóstico pode aumentar ainda mais os números do Brasil

Uma associação europeia amplia as formas de detectar a obesidade – e aborda a importância da localização da gordura corporal e do seu porcentual

O chamado VIGITEL (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) é uma ação do Ministério da Saúde que acompanha, desde 2006, as estimativas de brasileiros com condições crônicas como obesidade e diabetes, além de monitorar os hábitos de vida. 

E a edição de 2023 – que foi a campo no primeiro semestre daquele ano – apontou que 24,3% dos respondentes estão com obesidade. Ou seja, com o IMC acima de 30 kg/m2. Esse número alcança incríveis 61,4%, quando consideramos o IMC acima de 25 kg/m2, o que inclui o considerado sobrepeso. 

Mas você sabe como o VIGITEL chega a esses números? Em resumo, pesquisadores ligam para telefones fixos e móveis de vários brasileiros – em 2023, foram completadas 21.690 entrevistas de todos os estados. Aí eles perguntam qual a estatura e o peso do respondente e, então, calculam o chamado IMC.

Só que eu fico aqui pensando com meus botões: será que as pessoas realmente sabem sua real estatura e peso? Será que alguns (ou muitos) se colocam mais altos do que são e com peso menor do que a realidade? E será que só o IMC deveria ser considerado?

Eis que, há menos de um mês, a Associação Europeia para o Estudo da Obesidade publicou um novo consenso, indicando outros marcadores para diagnosticar obesidade, especialmente naqueles com IMC entre 25 e 30 kg/m2 (o que, como eu disse, hoje é tido como sobrepeso). 

Um dos métodos é a divisão da circunferência abdominal pela estatura, ambos em centímetros. Se o valor da divisão for igual ou maior do que 0,5, pode-se configurar obesidade – desde que a pessoa tenha condições ligadas ao excesso de peso, como diabetes tipo 2 e pressão alta. 

Além disso, o novo consenso estabelece que os exames de composição corporal por densitometria ou exame de bioimpedância podem ser usados para o mesmo diagnóstico. Ao seguir esses critérios adicionais, portanto, algumas pessoas hoje consideradas “com excesso de peso” pelo VIGITEL entrariam na categoria de “obesidade”. 

 Mas o que isso muda em nossa vida? Muitas estratégias de saúde pública de enfrentamento da obesidade se baseiam nesses números do VIGITEL. Se eles estão abaixo da realidade, menos recursos serão destinados para enfrentar essa verdadeira epidemia.

Vale lembrar que a obesidade é considerada uma doença. Não bastasse isso, ela acarreta inúmeras consequências, como derrame cerebral, infarto do coração, artrose e outros problemas osteomusculares, doenças mentais e vários tipos de cânceres. 

O novo consenso europeu de obesidade aponta para uma direção que já vem sendo defendida cientificamente há anos. A saber: obesidade é muito mais do que peso na balança. Medir a gordura corporal e o impacto dela no organismo é essencial. 

A metodologia do VIGITEL já era criticada antes. Depois desse novo consenso, acredito que seja hora de revê-la. A começar pelas entrevistas por telefone, passando pelos critérios usados para o diagnóstico de obesidade. 

Esse pode ser o primeiro passo para instituir uma real política de Estado para enfrentamento da obesidade em nosso país.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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