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Pesquisadores investigam o elo entre diabetes tipo 2 e câncer. E a resposta pode ser a inflamação

Estudo usa uma substância inflamatória como marcador para quantificar a probabilidade de desenvolver certos tumores entre esses pacientes

O diabetes tipo 2 é capaz de promover processos inflamatórios pelo organismo – tanto que, já há algum tempo, sabemos da relação do estado inflamatório de pessoas com essa doença e um risco aumentado de infarto e derrame. Mas um estudo recente também ligou essa inflamação a certos tipos de câncer, o que abre as portas para um exame de sangue que identificaria pacientes em maior risco de desenvolvê-los.

A pesquisa ainda será apresentada no Encontro Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD 2024), em Madrid, na Espanha, entre os dias 9 e 13 de setembro. 

Pessoas com diabetes tipo 2 já têm um risco aumentado de cânceres relacionados à obesidade, como mama, rim, útero, tireoide e ovário, além de tumores gastrointestinais, como colorretal e pancreático, e o mieloma múltiplo. Acredita-se que a inflamação crônica de baixo grau, comum tanto na obesidade quanto no diabetes tipo 2, tenha um papel importante nesse quesito.

O estudo, liderado por Mathilde Dahlin Bennetsen e sua equipe do Steno Diabetes Center Odense, na Dinamarca, analisou se os níveis de citocinas pró-inflamatórias — proteínas do sistema imunológico que aumentam a inflamação — teriam a ver com essa história. E, em caso positivo, se ajudariam a detectar quais pessoas com diabetes tipo 2 estão em maior risco de apresentar esses tipos de câncer.

Os pesquisadores acompanharam 6. 466 participantes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 e uma idade média de 60,9 anos. Eles começaram medindo os níveis de moléculas pró-inflamatórias nessa turma. Então, notaram que a chamada interleucina-6 se destacava, mostrando uma forte associação com o risco de câncer relacionado à obesidade.

Durante quase nove anos de acompanhamento, 327 indivíduos desenvolveram um desses tumores. E aqueles com níveis mais altos de interleucina-6 tiveram um risco 51% maior, mesmo após descartar fatores de confusão como idade, sexo, duração do diabetes e estilo de vida.

Os pesquisadores acreditam que dosar os níveis de interleucina-6 em um simples exame de sangue pode, no futuro, auxiliar a identificar pessoas com diabetes tipo 2 em maior risco de desenvolver cânceres relacionados à obesidade. No entanto, mais pesquisas são necessárias para confirmar se esse teste realmente melhoraria a detecção precoce e o tratamento desses tumores.

Em um comunicado à imprensa, Bennetsen destacou que “entender que níveis mais altos de inflamação podem indicar um maior risco de certos cânceres reforça a importância de check-ups regulares e do controle eficaz do diabetes” . Ela também enfatizou que manter um estilo de vida saudável e seguir os tratamentos prescritos contra o diabetes pode ajudar a controlar a inflamação e afastar o risco de câncer.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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