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Prótese de joelho: o que esperar da cirurgia?

Feito com equipe capacitada e com o paciente preparado e confiante, o procedimento é seguro e pode devolver autonomia e qualidade de vida

Para muitas pessoas, sobretudo com o avançar da idade, atividades corriqueiras como sentar, andar, subir e descer alguns degraus são acompanhadas por dores no joelho, por vezes incapacitantes. 

Quando medicamentos e fisioterapia já não conseguem amenizar o problema e a perda de mobilidade progride, a solução pode estar na artroplastia, intervenção em que próteses substituem partes ou toda a estrutura do joelho.

Com o aumento da expectativa de vida da população, essa perspectiva vai atingindo um grupo cada vez maior, em razão do processo degenerativo das articulações próprio do envelhecimento.

“Em geral a indicação da cirurgia é para os mais idosos, até porque há o desgaste natural também do material e, utilizadas em pessoas mais jovens, com o passar do tempo as peças podem exigir revisão”, explica o cirurgião Marco Percope, professor do Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Hoje a vida útil das próteses é longa, em termos de 30 anos, mas só em casos excepcionais, em pacientes com doenças como hemofilia e artrite reumatoide, que afetam o joelho, o procedimento é recomendado mais cedo”, complementa. 

Segurança e avanços técnicos

Ao considerar a idade do público em questão, muitas vezes com diferentes comorbidades, é compreensível o receio de encarar o procedimento. 

Uma boa avaliação pré-operatória e cuidados voltados ao manejo de doenças como hipertensão e diabetes, comuns aos mais maduros, são pontos fundamentais para dar segurança ao paciente e à equipe médica. 

“Trata-se de uma cirurgia de grande porte, portanto naturalmente tem riscos”, pondera Marco Percope. “Os dois mais comuns são infecção e os chamados eventos tromboembólicos, quando coágulos dos membros inferiores se soltam e podem migrar para o pulmão”, exemplifica. “Mas são riscos calculados e há medidas de controle dessas situações. Nos centros especializados, a taxa de infecção é de 1% e a de embolia pulmonar, ainda menor, em torno de 0,7%”, afirma. 

São dois os tipos de artroplastia. As unicompartimentais são parciais, substituem, por exemplo, a metade interna do joelho ou a articulação da rótula com o fêmur. “Mas na maior parte das vezes é feita a artroplastia total, a troca de toda a estrutura do joelho”, diz o professor da UFMG. 

“Hoje temos a possiblidade de fazer a cirurgia com o auxílio de robô, que calcula todos os passos do procedimento e garante mais precisão aos movimentos do cirurgião”, observa o médico. No dia da entrevista para esta matéria, aliás, ele havia acabado de realizar uma cirurgia robótica de prótese total em um homem de 62 anos. “Amanhã essa pessoa vai estar sentada, dobrando e esticando o joelho e já andando”, conta o médico.

Outro avanço nessa área capaz de melhorar ainda mais os resultados é a colocação da prótese customizada em 3D, intervenção já realizada no Brasil. O custo, porém, é um empecilho para a ampliação dessa técnica, na qual tudo é personalizado a partir de imagens de tomografia, o que otimiza encaixes e ajustes.

As fases da recuperação

Os primeiros momentos após a operação são trabalhosos, avisa o cirurgião. “Eventualmente pode ser bem doloroso. Embora existam formas de amenizar o quadro, sempre alertamos o paciente sobre essa possibilidade nas três primeiras semanas. Depois a vida começa a voltar ao normal”, ressalta. 

A fisioterapia é etapa indispensável da reabilitação, para ganho de força e estabilidade do joelho. “Em seis meses a pessoa já tem plena percepção dos bons resultados alcançados”, afirma Marco Percope.

 Pode até voltar a praticar esportes? Depende. Atividades de impacto, como corrida, ou que exigem mudanças bruscas de movimento, como futebol e basquete, diminuem a vida útil da prótese. Os exercícios liberados, portanto, costumam ser aqueles de baixo impacto, a exemplo de caminhada, natação, golfe… “Alinhar a expectativa é ponto importante do planejamento cirúrgico”, diz Marco Percope. “A pessoa precisa saber que não vai ter um joelho exatamente igual ao que tinha antes do surgimento dos problemas”, esclarece.

Pode haver rejeição? “O organismo rejeita órgãos vivos, e a prótese é inerte. Então não há esse perigo. Quando se fala em rejeição nesses casos, em razão do aparecimento de inchaço e outros sinais, na maioria das vezes se trata de infecção”, responde o médico. 

Atrasar a cirurgia aumenta os riscos? “A demora pode gerar uma perda um pouco maior de osso, um aumento de deformidade. Mas o procedimento é o mesmo. É preciso respeitar o tempo do paciente na tomada de decisão. Devemos ajudá-lo a ter consciência de que os benefícios suplantam muito os riscos e que o objetivo da cirurgia é melhorar a qualidade de vida”, argumenta Marco Percope.

Por Goretti Tenorio,

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Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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