Olhar da Saúde-Thumbs-Vitaminas de A a Z

Vitaminas de A a Z: isso é realmente necessário?

Para muitos, tomar multivitamínicos é sinônimo de saúde – ou pelo menos acham que mal não vai fazer. Mas há, sim, riscos associados ao uso desses suplementos sem orientação

 

Seja instigada pela publicidade ou pelo senso comum de que quanto mais vitaminas melhor para o organismo, há uma crença de que a suplementação desses micronutrientes é a chave para combater males que vão de cansaço a baixa imunidade. Então, quem sabe pastilhas de vitamina C não ajudem a evitar gripes e resfriados constantes? Mas não é bem assim, dizem os especialistas, e o uso indiscriminado desses compostos pode representar riscos à saúde.

É bem verdade que a compra desses produtos não exige prescrição médica, o que deve alimentar a sensação de que, se não fizerem bem, mal também não vão causar.

Para esclarecer por que é preciso cautela antes de levar para casa um suprimento de vitaminas e minerais, consultamos a nutróloga Sandra Fernandes, professora do curso de pós-graduação em Nutrologia da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e diretora do Departamento de Nutrição Enteral e Parenteral da entidade.

“A suplementação com multivitamínicos e minerais, sem uma avaliação prévia da necessidade individual, é um tópico controverso”, observa a médica. A recomendação é sempre procurar um profissional de saúde e realizar exames para identificar deficiências específicas que justifiquem a prescrição. Sem contar que, quando se opta por suplementação por conta própria, nem sempre fica claro pelo rótulo quais nutrientes, afinal, fazem parte da formulação e que quantidade é considerada adequada.

Veja a seguir outros conceitos e alertas apontados por Sandra Fernandes no que diz respeito ao uso desses itens tão valorizados nas “farmacinhas” caseiras.

 O que são os multivitamínicos?

São suplementos que contêm uma combinação de vitaminas e minerais, em doses que tanto podem atender quanto exceder as necessidades diárias recomendadas. São usados com o propósito de suprir deficiências nutricionais, complementar a dieta, apoiar a saúde geral e prevenir doenças.

 É possível conseguir todos os nutrientes de que o corpo precisa somente com o que comemos?

Na maioria dos casos é possível, sim, obter os nutrientes essenciais por meio de uma alimentação equilibrada e variada, sem a necessidade de suplementos.

Uma dieta saudável inclui:

  • Carboidratos, como grãos integrais, legumes, verduras.
  • Proteínas, presentes em carnes magras, peixes, ovos, leguminosas, leite e derivados.
  • Gorduras saudáveis, encontradas em abacate, oleaginosas, azeite, peixes gordurosos.
  • Vitaminas e minerais, obtidos com o consumo de frutas, verduras, legumes e alimentos integrais.
  • Fibras, ofertadas por frutas, verduras, cereais integrais e leguminosas.
  • Água, essencial para a hidratação e manutenção das funções fisiológicas, como eliminar urina e fezes de modo regular.

Em que casos a suplementação é indicada?

Alguns grupos se beneficiam de vitaminas e minerais suplementados além da alimentação, mas cada caso deve ser avaliado pelo médico e por vezes pode ser necessária uma dose de tratamento, além da suplementação. As gestantes, por exemplo, necessitam de ácido fólico e ferro.

Os idosos em muitos casos apresentam uma redução da absorção desses nutrientes. Acontece sobretudo com aqueles que utilizam inibidores de bomba de prótons, dos remédios para desconfortos estomacais, ou tomam medicamentos como metformina, para diabetes, que reduzem a absorção principalmente de vitamina B12 e ferro. Em razão do isolamento social e não exposição ao sol comum a essa população, há uma redução da vitamina D e, consequentemente, de cálcio.

Veganos e vegetarianos estritos podem precisar repor também vitamina B12, além de ferro, zinco e ômega-3, pois não consomem alimentos de origem animal.

Indivíduos com certas condições médicas ou deficiências nutricionais, como pós-cirurgia bariátrica, devem manter reposições conforme níveis das vitaminas e minerais encontrados nos exames de seguimento.

 Há a crença de que o uso de vitamina não faz mal, ainda que a pessoa não tenha necessidade de suplementação. Quais são os riscos associados ao excesso das vitaminas e dos minerais mais procurados?

Embora eles sejam essenciais para a saúde, o equilíbrio é crucial. É importante ressaltar que as quantidades diárias recomendadas e os limites toleráveis são estabelecidos para cada nutriente, levando em conta possíveis efeitos adversos.

Algumas pessoas podem ser mais suscetíveis aos efeitos tóxicos de certos compostos devido a condições médicas preexistentes, genética ou uso de medicamentos. O excesso, portanto, pode ser tão prejudicial quanto a deficiência.

Os riscos de toxicidade são maiores com o uso de suplementos do que com a ingestão de nutrientes de fontes alimentares. Isso porque os alimentos contêm uma variedade de nutrientes que interagem entre si, enquanto os suplementos podem fornecer doses concentradas de compostos isolados.

Outro perigo é a falsa sensação de segurança, capaz de levar as pessoas a negligenciar uma dieta equilibrada e outros aspectos importantes de um estilo de vida saudável.

E mais: a qualidade e a biodisponibilidade dos nutrientes em suplementos multivitamínicos variam amplamente entre as marcas, e algumas formulações nem sempre são tão eficazes quanto os nutrientes obtidos de fontes alimentares.

Daí por que o consumo indiscriminado desses produtos está relacionado a uma série de problemas de saúde, desde sintomas leves até doenças graves.

Essas condições são conhecidas como hipervitaminoses (no caso de vitaminas) e intoxicações (para minerais). Veja os exemplos:

  • Vitamina K: o excesso pode interferir com medicamentos anticoagulantes, como a varfarina, reduzindo sua eficácia. As boas fontes alimentares dessa vitamina incluem vegetais de folhas verdes, brócolis, couve, espinafre.
  • Vitamina C: o exagero está por trás de distúrbios gastrointestinais, como diarreia, náuseas, cólicas abdominais, além de formação de cálculos renais. Uma dieta com frutas cítricas, morangos, kiwis, pimentões, brócolis em geral oferece a quantidade necessária.
  • Vitamina A: toxicidade hepática, dores de cabeça, náuseas, tonturas, visão turva, irritabilidade, dores articulares e musculares são consequências de suplementação inadequada. Em gestantes, pode causar malformações congênitas. As melhores fontes alimentares são fígado, óleo de fígado de peixe, laticínios, ovos, vegetais de folhas verdes escuras e cenouras.
  • Vitamina D: hipercalcemia – ou seja, níveis elevados de cálcio no sangue, que pode causar náuseas, vômitos, fraqueza, problemas renais e calcificação de tecidos moles – é o dano mais frequente do excesso. Peixes gordurosos, óleo de fígado de peixe, gema de ovo e alimentos fortificados oferecem boas doses dessa vitamina.
  • Vitamina E: hemorragias, especialmente em pessoas que tomam anticoagulantes, e aumento do risco de acidente vascular cerebral hemorrágico podem ocorrer pelo uso indiscriminado. Fontes alimentares: óleos vegetais, nozes, sementes, vegetais de folhas verdes.
  • Cálcio: a hipercalcemia atrapalha o funcionamento dos rins e gera calcificação de tecidos moles e constipação. Em doses muito altas, está associada a maior risco de doenças cardiovasculares. Laticínios, vegetais de folhas verdes, tofu e alimentos fortificados fornecem cálcio pela alimentação.
  • Ferro: o perigo é a hemocromatose, acúmulo desse mineral no corpo, capaz de causar danos ao fígado, coração e pâncreas. Para suprir a necessidade, vale consumir carnes vermelhas, aves, peixes, leguminosas, vegetais de folhas verdes.
  • Zinco: náuseas, vômitos, perda de apetite, cólicas abdominais, diarreia, dores de cabeça são as ameaças do consumo desregrado. Esse mineral está presente em carnes, mariscos, leguminosas, sementes e nozes.
  • Selênio: a selenose causa perda de cabelo e unhas, problemas gastrointestinais, fadiga, irritabilidade, danos ao sistema nervoso. Para obter o mineral pela dieta, aposte em castanha-do-pará, frutos do mar, carnes e cereais integrais.

O abuso de um desses nutrientes atrapalha a absorção de outro ou o efeito de medicamentos?

Sim, vitaminas e minerais podem competir entre eles e afetar a eficácia de diversos medicamentos, aumentando ou diminuindo seus efeitos, ou até mesmo causando reações adversas. Essas interações ocorrem por diferentes mecanismos, como alterações na absorção, metabolismo ou eliminação dos fármacos.

Alguns exemplos mais comuns de interações entre suplementos e medicamentos:

  • Vitamina K: interfere na ação de anticoagulantes, aumentando o risco de coágulos sanguíneos.
  • Vitamina E: também altera o desempenho de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, tornando o sangue menos apto a coagular e assim ampliando o risco de sangramento.
  • Vitamina C: o excesso reduz a atuação das estatinas, medicamentos para colesterol.
  • Cálcio e zinco: o perigo, aqui, está na alteração da absorção de determinados antibióticos.

Conheça agora as interações entre os diferentes vitamínicos:

  • O excesso de ferro compete com o zinco por proteínas transportadoras no intestino, reduzindo a absorção deste último.
  • Quantidades excessivas de zinco reduzem a absorção de cobre no intestino e podem induzir à deficiência desse mineral.
  • Exagerar na dose de cálcio diminui a absorção de ferro não heme (de origem vegetal) no intestino.
  • Altas doses de magnésio têm potencial para dificultar a absorção de cálcio, especialmente se consumidos conjuntamente.
  • Vitamina C nas alturas restringe a absorção de cobre no intestino.

Por Goretti Tenorio,

Olhar da Saúde-Goretti Tenorio
Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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